O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, publicou nesta terça-feira (10) carta aberta encaminhada ao ministro da Fazenda e presidente do Conselho Monetário Nacional (CMN), Fernando Haddad, na qual explica os fatores que levaram a inflação a terminar o ano de 2022 em 5,79%.
Ele atribui o estouro da meta da inflação a cinco fatores (veja abaixo os detalhes), entre eles, a elevação do preço do barril de petróleo e a retomada da economia. O estouro aconteceu mesmo com a Selic, a taxa básica de juros da economia, no maior patamar desde o fim de 2016.
O percentual ficou acima do centro da meta de inflação e acima do teto da meta, ambos definidos pelo CMN. Para 2022, a meta de inflação era de 3,5%, com teto (limite máximo permitido) de 5%.
Foi o segundo ano seguido em que a inflação registrada no país estourou o teto da meta, obrigando o presidente do BC a publicar uma carta aberta com as justificativas.
Em 2021, a inflação terminou o ano em 10,06% – bem acima do teto da meta, que era de 5,25%. À época, Campos Neto atribuiu a escalada de preços à disparada das commodities e à falta de insumos.
Para 2023, o centro da meta de inflação é de 3,25%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo. Ou seja, será formalmente cumprida se ficar entre 1,75% (piso) e 4,75% (teto).
Motivos
Neste ano, Campos Neto afirmou na carta encaminhada a Haddad que os principais fatores externos que levaram a inflação em 2022 a ultrapassar o centro e o teto da meta foram:
- efeito de inércia da inflação do ano anterior;
- elevação dos preços de commodities, em especial do petróleo;
- desequilíbrios entre demanda e oferta de insumos;
- choques em preços de alimentação, resultantes de questões climáticas; e
- retomada na demanda de serviços e no emprego, impulsionada pelo declínio da quantidade de casos de Covid-19 e consequente aumento da mobilidade.
Campos Neto escreveu ainda que vários fatores agiram no sentido contrário, ou seja, evitando que o estouro da meta fosse ainda maior. Foram eles:
- redução na tributação sobre combustíveis, energia elétrica e telecomunicações;
- comportamento da bandeira de energia elétrica, que passou de escassez hídrica para bandeira verde ao longo do ano passado; e
- melhora do câmbio.
Busca pela meta
O presidente do BC lembrou que a política monetária “avançou substancialmente no terreno contracionista em 2022” para tentar conter a inflação. Ou seja, que o Comitê de Política Monetária do BC subiu ao longo do ano passado a taxa de juros para tentar conter a inflação.
Atualmente, a Selic está em 13,75%, o patamar mais alto desde novembro de 2016, quando a taxa básica estava em 14% ao ano.
Na carta, Campos Neto afirma que o BC continuará perseguindo uma inflação mais próxima da meta ao longo deste e dos próximos anos. “As projeções condicionais do BC são de que a inflação acumulada em quatro trimestres prossiga a trajetória de queda ao longo de 2023, terminando o ano em patamar inferior ao de 2022“, afirmou.
Porém, admitiu que, neste ano, a inflação deve ficar acima da meta, que é 3,25%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo.
“Nesse cenário, em 2023, a inflação ainda se mantém superior à meta, em virtude principalmente da hipótese do retorno da tributação federal sobre combustíveis nesse ano e dos efeitos inerciais da inflação de 2022”, escreveu Campos Neto.
Já para os anos de 2024 e 2025, a última projeção do BC é que a inflação fique em 3% e 2,8%, respectivamente, praticamente no centro da meta, que é de 3% para ambos os anos.
Como funciona
O Banco Central tem que perseguir uma meta para o resultado anual da inflação. A meta é definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), com um intervalo de tolerância para mais ou para menos.
O principal instrumento utilizado pelo BC para tentar cumprir a meta de inflação é a taxa básica de juros, a Selic. Normalmente, o BC sobe os juros para conter o aumento de preços.
Quando a inflação termina acima ou abaixo dos limites de tolerância, o presidente do Banco Central é obrigado a encaminhar carta aberta ao presidente do CMN com os motivos e dizendo o que pretende fazer para levar a inflação do próximo ano para a meta.
Sétima carta
No ano passado, Campos Neto disse em carta a Guedes que inflação de 2 dígitos é culpa de fenômeno global
A carta de Campos Neto divulgada nesta terça é a sétima escrita por um presidente do Banco Central brasileiro.
A mais recente foi escrita no ano passado, por ele mesmo, porque a inflação a terminou o ano de 2021 em 10,06%, quase o dobro do teto da meta.
Antes, a carta mais recente tinha sido escrita pelo seu antecessor Ilan Goldfajn, em janeiro de 2018, referente à inflação de 2017, que ficou abaixo do piso do sistema de metas.
Comentários