Lucratividade das instituições sobe 49% e volta a patamares pré-pandemia. BC altera metodologia e vai excluir Santander do ‘grupo dos grandes’ daqui para frente

Os cinco maiores bancos do país dominaram 81,4% do mercado de crédito em 2021, aponta o Relatório de Economia Bancária de 2021, divulgado pelo Banco Central nesta quinta-feira. Esse é o retrato da concentração das atividades bancárias de Itaú, Bradesco, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Santander, que também tiveram 77,4% dos depósitos totais no ano passado.

Esses números representam leve queda em relação à concentração bancária registrada em 2020, quando essas instituições detiveram 81,8% das operações de crédito e 79,1% dos depósitos.

O BC também apontou que a lucratividade dos bancos voltou a subir, em recuperação da queda ocorrida em 2020 e alcançando patamares próximos aos observados antes da pandemia da Covid-19. O lucro líquido do sistema bancário em 2021 foi de R$ 132 bilhões, 49% superior ao obtido em 2020 e 10% acima do observado em 2019.

Financiamentos rurais

De acordo com o BC, houve queda de concentração bancária em mercados considerados relevantes, como os financiamentos rurais e agro e habitacionais, para pessoas físicas e jurídicas, e também em crédito pessoal com consignação em folha de pagamento, cartão de crédito e aquisições com recebíveis comerciais. Mas a autoridade monetária admite que o nível de concentração ainda é elevado, especialmente em segmentos com recursos direcionados.

No caso dos financiamentos rurais e agro, mais da metade das operações foi feita pelo Banco do Brasil, que registrou 52,73% do total. Na sequência aparece o Bradesco, com 5,38% deste mercado. A Caixa Econômica, que passou a mirar no agronegócio, tem 3,07% de participação. Neste caso específico, a participação de cooperativas é representativa: o Sicredi tem 2,98% desse mercado, mais do que o registrado pelo Santander, que tem 2,81%.

Já nos financiamentos habitacionais, a participação da Caixa é muito forte: tem 66,25% do mercado. Os três bancos privados (Itaú, Bradesco e Santander) registram 26,03% do mercado.

Crédito para cooperativas

O diretor de Organização do Sistema Financeiro e Resolução, Renato Gomes, destacou a queda na concentração bancária em todos os segmentos e falou sobre o aumento da participação das cooperativas. No caso das operações de crédito, as cooperativas cresceram de 4,3% para 6,1% entre 2019 e 2021. Já os depósitos passaram de 4,7% para 6%.

— A diminuição da concentração do mercado de credito reflete a política pública de digitalização de meios de pagamento e novos serviços — afirmou, citando o Pix e a entrada de novos players no mercado.

O Banco Central ainda informou que adotará outras métricas daqui em diante para mensurar a concentração bancária. Uma altera a quantidade de instituições financeiras a serem consideradas para a concentração: em vez de cinco, serão quatro.

A justificativa é que esse é o conceito tradicionalmente empregado na literatura e por organismo multilateral. Com essa mudança, o grupo de “bancões” exclui o Santander. Para os novos indicadores, só serão considerados Banco do Brasil, Caixa Econômica, Bradesco e Itaú.

Para a Febraban, o mercado bancário brasileiro tem bastante concorrência. A entidade diz apoiar medidas de incentivo à competição, desde que assegurado o mesmo tratamento regulatório a todos os participantes do mercado.

Origem dos recursos

Ainda nas mudanças metodológicas, outra é a inclusão de segmento adicionais para avaliar a participação de mercado: instituições não bancárias atuantes no mercado de capitais e instituições de pagamento. Por fim, vai mensurar as participações por tipo de controle de capital (público ou privado) e origem de recursos (livre ou direcionado).

Gomes explicou que a mudança para adotar a razão de concentração bancária de quatro instituições foi buscar esse alinhamento com o mercado internacional e pela avaliação de que é mais informativo:

— É mais informativo um índice que pega um topo mais qualificado do mercado. Não há nenhuma razão, se não a adequação ao mercado internacional.

Na prática, a mudança tem efeito para adequação às normas adotadas pelos países que fazem parte da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), mas apresenta um percentual um pouco menor da concentração do mercado.

O efeito é meramente estatístico. É uma resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN), de 2017, que define quais são as instituições financeiras e demais instituições para a aplicação proporcional da regulação prudencial, considerando o porte e a atividade internacional. No principal segmento, chamado S1, estão as instituições que tenham porte igual ou superior a 10% do PIB. Por esse critério, estão neste segmento BB, Caixa, Bradesco, Itaú, Santander e BTG.

Na avaliação da Febraban, as mudanças feitas pelo BC são positivas e vão permitir melhor comparação com outros países e melhor diagnóstico do nível de concentração do setor bancário.

“Em relação a chamada razão de concentração, o BC passa a considerar a participação de mercado dos quatro maiores bancos e não dos cinco como nas edições anteriores. De acordo com o BC, a intenção é permitir uma melhor comparação com outros mercados que em sua maioria adotam esta razão de concentração (RC4), o que é muito bem-vindo. Vale notar que a OCDE também adota tal prática, o que significa uma convergência para os padrões da entidade, dado que o interesse do Brasil em ingressar na Organização”, diz a Febraban.

O Santander foi procurado, mas não vai se pronunciar sobre a alteração.

Lucro em alta

A retomada da lucratividade, que avançou 49%, foi explicada por três razões principais, segundo o BC: crescimento da margem de juros, a redução das despesas com provisões e os ganhos de eficiência. O BC aponta que em razão do cenário econômico menos favorável previsto para 2022, há uma expectativa de alta moderada na inadimplência.

“Esse movimento da inadimplência e a migração das carteiras para um mix de maior risco podem aumentar o nível de ativos problemáticos ao longo do ano. Esse eventual aumento não deve, contudo, trazer maiores dificuldades para o sistema, dado que o atual nível de cobertura de provisões poderá ser utilizado para absorvê-lo total ou parcialmente”, diz o relatório.

A Febraban diz que a recuperação da rentabilidade do setor bancário em 2021 acompanha a recuperação da atividade econômica do país. Também afirma que “não é excepcional, nem está desalinhada da realidade de outros setores da economia brasileira ou do desempenho do setor bancário em outros países”.

“A melhora da rentabilidade do setor em 2021 decorreu de uma baixa base de comparação, dado que o lucro do setor foi bastante baixo em 2020. Tal recuperação pode ser explicada pelos menores gastos com despesas contra devedores duvidosos (PDD), diante da redução das incertezas com a pandemia; retomada da atividade econômica, que propiciou a melhora da receita com serviços; além do controle das despesas, aumentando a eficiência do setor”, diz a entidade em nota.

Fonte: Contec, 07/10/2022

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