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INFORME BANCÁRIO 209/2023 - Banco Central deve baixar juros nesta quarta pela primeira vez em três anos; veja efeitos na prática

Publicado em 02 agosto 2023

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O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reúne nesta quarta-feira (2) e deve iniciar o ciclo de corte nos juros básicos da economia brasileira. A decisão será anunciada após as 18h.

Se confirmado, esse será o primeiro corte dos juros em três anos. A última queda aconteceu em agosto de 2020, em meio à fase mais aguda da pandemia da Covid-19, quando a taxa Selic caiu de 2,5% para 2% ao ano (o nível mais baixo da história).

Atualmente, a taxa Selic está em 13,75% ao ano, o maior nível em seis anos e meio.

A expectativa da maior parte do mercado financeiro, em pesquisa realizada pelo BC com mais de 100 bancos na semana passada, é de um corte de 0,25 ponto percentual, para 13,50% ao ano. Mas há analistas que projetam uma redução maior, de 0,5 ponto percentual, para 13,25% ao ano.

Desde o início do mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e integrantes do seu governo vêm criticando o BC por manter a taxa em 13,75%. O presidente do BC, Roberto Campos Neto, argumenta que a manutenção da taxa foi importante para conter a inflação. Campos Neto tem autonomia, ou seja, não pode ser demitido por Lula.

A queda da inflação nos últimos meses pode ser um fator que leve à redução dos juros nesta quarta.

Em maio, a inflação oficial desacelerou para 0,23% em alta. E, em junho, foi registrada deflação, ou seja, queda de preços, de 0,08%. 

 

Consequências de juros menores

 

De acordo com especialistas, a redução da taxa de juros no Brasil terá várias consequências para a economia. Veja abaixo algumas delas:

Redução das taxas bancárias: a tendência é que os cortes de juros sejam repassados aos clientes. Em junho, antes mesmo do início do ciclo de corte da Selic pelo BC brasileiro, os juros dos bancos já começaram a recuar. Foi a primeira queda neste ano.

Maior nível de atividade: Com juros mais baixos, a expectativa é de que comece a haver um comportamento melhor do consumo da população e, também, melhora dos investimentos produtivos, impactando positivamente o Produto Interno Bruto (PIB), o emprego e a renda.

"No momento que a taxa de juros cai, gera-se um incentivo para o empresário e a indústria faz mais investimentos no seu negócio. Ter uma taxa de juros mais baixa vai fazer com que a população busque financiamentos e que as empresas destravem e façam investimentos necessários", afirmou Rodrigo Azevedo, economista e sócio-fundador da GT Capital.

Melhora das contas públicas: as reduções de juros também favorecem as contas públicas, pois diminuem as despesas com juros da dívida pública. Em 2022, a despesa com juros somou R$ 586 bilhões. Na porcentagem do PIB (5,96%), foi o maior patamar desde 2017.

Com o recuo dos juros, haverá uma pressão menor de despesas, o que favorece o perfil do endividamento brasileiro.

No fim do mês passado, o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, calculou que se a taxa básica de juros estivesse em 10% ao ano, em vez dos atuais 13,75%, a econonomia nos gastos com juros da dívida pública permitiria o pagamento anual de quase um Bolsa Família. 

Impacto nas aplicações financeiras: investimentos em renda fixa, como no Tesouro Direto e em debêntures, porém, tendem a ter um rendimento menor do que teriam com juros mais elevados.

De acordo com análise do Paraná Banco Investimentos, entretanto, a renda fixa ainda é um bom investimento. Nesse caso, os papéis pré-fixados são os mais recomendados quando tem início um ciclo de queda nos juros.

"Quanto aos investimentos de longo prazo, os títulos indexados à inflação são uma opção interessante para garantir um ganho real", acrescentou a instituição.

 

Juros lá fora

 

A reunião do Copom acontece em um momento no qual os bancos centrais de países desenvolvidos ainda estão elevando a taxa de juros - para conter pressões inflacionárias - ou mantendo-as estáveis.

 

  • O Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, aumentou os juros do país no fim de julho em 0,25 ponto percentual, para faixa de 5,25 % a 5,50% ao ano - marcando o maior nível das taxas desde 2001. 
  • O Banco Central Europeu (BCE) elevou a taxa de juros da zona do Euro em 0,25 ponto percentual na última semana, de 3,5% para 3,75% ao ano. A presidente do BCE, Christine Lagarde, sinalizou que pode haver uma pausa no ciclo de aumento dos juros.
  • O Banco Central do Canadá subiu sua taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual em meados de julho, para 5% ao ano.
  • O Banco Central da Suíça aumentou a taxa de juros pela quinta vez seguida no final de junho, para 1,75% ao ano.
  • O Banco Central do Reino Unido elevou sua taxa básica de juros, também no final de junho, em 0,5 ponto percentual, para 5% ao ano.

A redução da taxa básica de juros no Brasil deve acontecer nesta quarta-feira após pressão de Lula, e também da queda na inflação nos últimos meses.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou em maio que a estratégia da instituição foi de iniciar o processo de alta dos juros mais cedo do que em outros países. 

"Consideramos que essa abordagem proativa de política monetária [definição da Selic para conter a inflação], que levou a taxa básica de juros a um território significativamente restritivo [alto], foi oportuno. Note-se que que essa estratégia começa a dar resultado. A inflação no Brasil começou a diminuir significativamente mais cedo em comparação a outros países em desenvolvimento", disse Campos Neto, na ocasião.

 

Como as decisões são tomadas

 

Para definir a taxa básica de juros e tentar conter a alta dos preços, no sistema de metas de inflação, o BC olha para frente.

Neste momento, a instituição já está mirando na meta do ano que vem, e também para o início de 2025 (em doze meses). Isso ocorre porque as mudanças na taxa Selic demoram de seis a 18 meses para ter impacto pleno na economia.

 

  • A meta de inflação do próximo ano, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), é de 3% e será considerada cumprida se oscilar entre 1,5% e 4,5%.
  • Na semana passada, os economistas do mercado financeiro reduziram a estimativa de inflação deste ano, de 4,95% para 4,90%, e passaram a projetar uma inflação de 3,90% para 2024.
  • A expectativa do mercado financeiro é de que os juros continuem recuando nos próximos meses e que terminem 2023 em 12% ao ano, e 2024 em 9,25% ao ano.

 

Isso aconteceu porque os juros do mercado futuro, pactuados entre as instituições financeiras com base nas expectativas para a economia brasileira, já começaram a recuar (antecipando o corte da Sellic).

 

 

Fonte: G1, Alexandro Martello, 02/08/2023.

 

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